quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Anota Aí

Anota aí para o seu futuro menina:

Desapegar das pessoas,

Se importar menos,

Não se abalar por nada nem ninguem,

Correr atrás daquilo que faça seu coração vibrar

Ficar perto de quem te quer bem,

Correr atras dos seus sonhos,

Se AMAR mais,

Esquecer tudo aquilo que te faça mal.

Anota aí: Cair na real!

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Para Onde Vai o Amor?

E hoje o Carpinejar escreveu pra mim, algo que eu gostaria de ter escrito



Quando deixo de amar, não fico aliviado, eu fico triste.
Porque é se despedir de uma grande parte da própria vida, é se desapegar de um sentimento que julgava único.

É triste deixar de amar. Profundamente triste. É sacrificar a personalidade, é nunca mais usar um jeito de reagir e de falar, nunca mais usar um jeito de beijar e de abraçar, nunca mais usar um jeito de transar e ser feliz.

Passo a pensar: onde foi parar todo aquele amor? 

Onde é que ele se escondeu? 
Será que desapareceu ou apenas está dormindo?

Será que terminou mesmo ou é fingimento para suportar a falta? 

Será que minto para mim para não sofrer tanto?

Será que o amor é um segredo disfarçado de fim? 

Será que a minha solidão agora é soberba? 
Será que meu contentamento é uma cilada? 
Será que me embriaguei de palavras e esqueci o caminho de volta?

Onde estão aquelas declarações apaixonadas?

 Em que parte distante de mim, já que não sobem mais aos olhos?

Para onde foram a algazarra da convivência, os passeios, as viagens, as mãos dadas, os risos, a cumplicidade das festas, as brincadeiras, o sono de conchinha, as conversas até tarde?

Para onde foram a ansiedade, o ciúme, a saudade, o desespero de não ver mais, as implicâncias ruidosas, as concordâncias silenciosas?

Para onde vai o amor após sumirem as fotos, os quadros, as mensagens de texto, os bilhetes de flores?

Quando não há mais dor para sinalizar onde se mantinha o amor. Quando não há mais desespero para apontar onde se guardava o amor. Quando não restam lápide, campa, cicatriz, rua, aliança para ostentar sua lembrança.

Em que parada de Porto Alegre desembarca a comoção perdida? 

Qual a estação em que o amor acena e evapora? 
Que planeta, que dimensão, que oceano?

Ou ele se transforma numa mania nova, num modo de suspirar, de virar o rosto, de mexer as orelhas?

Ou ele se converte em cinismo religioso, em maldade com os palhaços, em ironia com noivos, em raiva de qualquer save the date dos amigos?

Para onde vai o amor depois do amor? Me fale, por favor. As lágrimas, quando secam, permanecem eternamente na pele? Não sei. Mas meu rosto está cada vez mais salgado.

Publicado no jornal Zero Hora
Coluna semanal, p. 4, 16/9/2014

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Homem se apaixona fácil, mas ama difícil




Homem se apaixona fácil, o que ele tem medo é de amar.

Mulher não se apaixona fácil, mas não tem medo de amar.

São dois fusos diferentes. São duas realidades em desacordo.

Homem logo se entrega para um relacionamento, não mede esforços para ficar com alguém, renuncia sua vida e seus prazeres mais essenciais, altera sua rotina. Na paixão, sua generosidade é corajosa. Facilita as saídas aos bares e restaurantes, facilita a intimidade na casa, facilita o arrebatamento. Nada incomoda, nada atrapalha, nenhum defeito é contabilizado.

Sua complicação é quando passa a amar, quando larga a fase da aventura e do desconhecimento dos meses iniciais para fazer plano junto. Daí ele estaciona, emperra. Tanto que sofre horrores para dizer o primeiro eu te amo. Tanto que sofre horrores para misturar as escovas de dente. Tanto que sofre horrores para dividir as prateleiras. É como se não pensasse até aquele momento.

Na paixão, ele não avalia as separações anteriores, suas falhas de sistema, suas fobias de convivência. Explode por intuição, desmemoriado. É vir o amor que ele recua, entra em julgamento, contrai o olhar e economiza as palavras. É consolidar os laços que se confunde, acumula receios e inventa desculpas.

A mulher é exatamente o contrário, e bem mais coerente. Leva tempo para se apegar, questiona de saída, é desconfiada na paixão, cética na paixão, contida na paixão. Sofre passo a passo. Empenha malha fina da personalidade na apresentação. Sua instabilidade é de imediato, sua crise de consciência é no começo. Quando descobre que gosta realmente, é que se liberta e derruba suas defesas. É realizar projetos e formular expectativas que se solta e se desinibe. Para ela, o amor acontece mais natural do que a paixão. 

Paixão é choque, dói; 
amor é costume, cicatriza.

Homem diz “Não quero me envolver”. A mulher diz “não quero me apaixonar”.
As declarações são representativas. Ele recusa intimidade após o contato, ela pretende evitar qualquer contato, já que a intimidade não a assusta.

Homem mergulha para reclamar da água
A mulher experimenta a água antes de entrar.

Homem tem primeiro certeza para depois duvidar.
A mulher duvida até cansar sua cautela.

Homem oferece tudo para retirar gradualmente. 
A mulher esconde tudo para oferecer aos poucos.

Homem se mostra desembaraçado e, em seguida temeroso.
Mulher se apresenta temerosa e, em seguida, desembaraçada.

Homem decide rápido para desmanchar lentamente sua convicção.
Mulher demora a se decidir, mas não volta atrás.

Homem é paixão. 
Mulher é amor.


(Fabrício Carpinejar - mais em: Carpinejar

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

O mundo não é plano, a Terra não é redonda nem azul. A nossa vida também não.


Aprendi nas aulas de Geografia que a Terra não é redonda como, de forma simplificada, acreditamos que seja. Ela é geóide. Em formato de Terra. Ou seja, a Terra tem o formato que só a Terra tem. Único. Exclusivo. Com seus picos e seus vales. Suas áreas azuis, mas também as escuras. As bem poucas de clima agradável e as muitas de calor e frio insuportáveis. Quando muito, 12 horas de luz. E 12 de escuridão.
Assim é nossa vida. Com altos e baixos. Luzes e trevas. Nem redonda, nem plana, muito menos linear.
Se nem escolhemos onde, nem de quem, nem quando nascemos, fatores tão determinantes de nossas estórias, o que nos faz crer que o que viria e virá depois  estaria e estará menos fora de nosso controle?
Conheci minha esposa, depois de um ano, trabalhando no mesmo prédio. Ela no 6o. andar. Eu no 5o. Na mesma empresa! Casamos em 11 meses. Ela engravidou em 6. Nossa filha se chamaria Rebeca. Nasceu primeiro o Gabriel. Pela Rebeca esperamos mais 4 anos. Fugiu de longe de nossos planos. Mesmo assim, como poderia deixar de amá-los profundamente, cada um no seu tempo, cada um do seu jeito, idade, temperamento.
Como antever com quem nos casaremos e por quanto tempo permaneceremos casados? Onde vamos trabalhar? Quando seremos demitidos, promovidos? Quando virá a doença? E de volta a saúde?
Alguns dirão que a coisa não é assim tão fora de nosso controle. Fazer as coisas certas trará sempre bons resultados. As erradas, os maus. Concordo. Mas só parcialmente.
Como aprendi com meu pai, se fizermos tudo certo, ainda assim algo pode dar errado. Se fizermos tudo errado, raramente dará certo. Mas dá. Dá errado. Dá certo.
Nem sempre o melhor time vence a Copa. O juiz anula o gol válido e valida o de mão. Nem sempre o melhor corredor ganha a medalha. O padre escocês atrapalha. Mas nem assim ele desiste. Chega em terceiro. E comemora.
De meu pai é também outra lição. Há filho de malandro que dá para gente de bem, filho de gente de bem que dá para malandro. Ou como disse Helen Keller, não há rei que não descenda de um escravo e não há escravo que não descenda de um rei.
Picos e vales. Alegrias e tristezas. Sempre uma novidade. O email chega. A carta chega. O telefone toca. E tudo, tudo pode mudar.
Você chega em casa. As suas malas estão esperando por você na porta. Ela cansou de pedir para você dedicar mais tempo para sua família. Ela resolveu dedicar mais tempo para ela e para seus filhos. E você ficou de fora dos novos planos dela.
Você poupou. Ajuntou. Planejou seu pecúlio. Sua aposentadoria antecipada. Tranqüilidade para o resto da vida. Verdade. Conseguiu. Mas o resto da vida dura só 6 meses. Você gastou a saúde para comprar sucesso. Pecúlio. Dinheiro para o resto da vida. 6 meses. 60 meses. 6 anos.
E a polpuda poupança talvez fique para um cunhado, para um sobrinho que nunca te ligou no dia do seu aniversário, ou para um filho que só vai aprender como se ganha dinheiro fácil e jamais a poupar.
Há quem se fie em estatísticas e probabilidades. Entendo muito pouco delas. Mas há algo nelas que compreendo menos ainda. Dizem que só cai um avião em cada 1 milhão de vôos. Legal. Mas caí. E quando estamos nele, ou nosso amigo, nosso conhecido, nosso ente querido. Caímos com ele. Aí não é mais probabilidade, é fato. Não é mais 1 em 1 milhão. É 100% que se foi. Como declarou Fernando Sabino ao perder seu amigo Hélio Pellegrino “com ele morreu o melhor de mim”.
Qual a probabilidade de uma senhora de 80 anos ser atropelada quando por 80 anos ela nunca foi? Mas é. Para ela pouco vai importar as estatísticas. Não será a chance de 1 em 1 milhão. Simplesmente terá sido.
Uma manhã lanchava num shopping em Santiago do Chile. Na verdade, tomava apenas um suco de laranja para fazer hora esperando a chegada de minha esposa. De repente, pum. Algo explode em uma lixeira a pouco mais de 5 metros de mim. Nenhum estilhaço, só um grande susto.
A mente corre e me lembro que seja talvez fruto de incidentes recentes com a prisão de suspeitos de atentados a bombas de 14 meses atrás. Que pode não ter sido apenas a brincadeira estúpida de quem pensa não haver nada de melhor para fazer na vida.
Mais um explosão. Agora no andar de baixo. Tento manter a calma, mas o instinto de sobrevivência manda racionalizar menos e raciocinar mais. Não é hora de avaliar a potência dos artefatos, é hora de cair fora dali. Pouco antes de cruzar a porta do shopping ouço mais uma explosão, agora numa lata de lixo na calçada.
Três explosões. A vida é assim. Três explosões. A viagem de lazer, podia se transformar em tragédia. A alegria em pranto.
Mas há saída.  Mas só uma. É não acreditar em nossos planos infalíveis. Não deixar para depois. Para um dia. Para aquele dia.
A saída é pedir o perdão que ainda não pedimos, é comer o quindim que olhou para nós sem medo das suas 500 calorias, é deixar o trabalho mais cedo para pegar nosso filho na escola, é beijar a esposa sempre como se sempre fosse a primeira e a única vez.
É não programar cada passo da vida antes de dá-lo, mas sentir cada passo que se dá quando se der cada passo. É lembrar menos do passado, depositar menos esperança no futuro e viver mais o presente nos presentes que o presente nos traz.
É desligar o celular enquanto seu melhor amigo está na sua frente. É desligar a televisão na hora do jantar. É saborear a pizza do sábado, o pastel da quinta e o café da manhã a cada nova manhã.
É acreditar menos na infalibilidade dos nossos planos, nos gráficos, nas planilhas e encarar o fato, meu querido amigo, que a nossa vida não é nem redondinha, nem plana, mas que se a gente prestar um pouco mais de atenção ela pode, muito bem, ficar um pouco mais azul.

Disponível em: http://peopleside.com.br/v2/o-mundo-nao-e-plano-a-terra-nao-e-redonda-nem-azul-a-nossa-vida-tambem-nao-2/

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

O Amor Vulgar



Pinta-se o Amor sempre menino, porque ainda que passe dos sete anos, como o de Jacob, nunca chega à idade de uso de razão.

 Usar de razão, e amar, são duas coisas que não se juntam. A alma de um menino, que vem a ser? Uma vontade com afetos, e um entendimento sem uso. 

Tal é o amor vulgar. Tudo conquista o amor, quando conquista uma alma; porém o primeiro rendido é o entendimento. Ninguém teve a vontade febricitante, que não tivesse o entendimento frenético. 

O amor deixará de variar, se for firme, mas não deixará de tresvariar, se é amor. Nunca o fogo abrasou a vontade, que o fumo não cegasse o entendimento. Nunca houve enfermidade no coração, que não houvesse fraqueza no juízo.[...]

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013


"A verdadeira beleza não vemos somente com os olhos!"

Filme: A Bela e a Fera, 1991

terça-feira, 15 de janeiro de 2013



"Querem que sejam curiosos e façam amiúdas perguntas acerca de tudo que ouvem, e são punidos severamente aqueles que, em presença de uma coisa extraordinária e notável, demonstram pouca admiração ou curiosidade [...]

Os professores de História emprenham-se menos com o trabalho de ensinar aos seus discípulos a data de tal e tal acontecimento, do que a descrever-lhes o caráter, as boas, as más qualidades dos reis, dos generais e dos ministros; julgam que pouco lhes pode interessar em que ano ou mês tal batalha foi travada; mas decerto lhes interessa quanto os homens, em todas as épocas, são bárbaros. brutais, injustos, sanguinários, sempre dispostos a expor a vida sem necessidade e a atentar contra a dos outros sem motivo; quanto os combates desonram a humanidade e quão fortes devem ser para chegar a  esta funesta extremidade; consideram a história do espirito humano a melhor de todas, e ensinam menos os discípulos a reter os fatos, do que a julga-los. [...]

Exortam-nos a que escolham com segurança um modo de vida, fazendo o possível para lhes fazer tomar aquele que melhor convenha às suas naturais tendências, pouco se importando com as faculdades paternas, de maneira que, por vezes, o filho de um lavrador chega a ser ministro de Estado, enquanto o filho de fidalgo se torna simples comerciante."

(Trecho do capitulo Como as crianças são educadas em Lilipute, de As Viagens de Gulliver.)